segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Meu parto nada normal

Fui escovar os dentes (e me maquiar) e pensei: - Caramba, estou no hospital há 24 horas, mas se ainda consigo ser vaidosa, aqui vai longe. Por isso é melhor começar a contar minha experiência de parto normal antes que eu começa a esquecer alguns detalhes. Ontem reparei que perguntei a mesma coisa umas três vezes pro meu marido.

Vim fazer uma consulta na quarta, dia 30, e a obstetra me disse que como estava completando 40 semanas, tinha anemia, diabetes gestacional, 3 miomas, fiz cirurgia bariátrica era melhor ser internada e iniciar uma indução. Eu fiquei feliz da vida. Não iria fazer a cesariana que sempre imaginei mas tinha uma tarde pra resolver detalhes práticos como depilar, revisar a mala de maternidade, comprar um supositório (hahaha, a vida como ela é). 

Era dia 1 de dezembro. Sempre amei dias primeiros. Foi quando comecei a namorar o nego, depois nos casamos. Ou seja, motivo de comemoração. Nunca deixei passar. Algumas pessoas fazem uma revisão dos sonhos no ano novo eu costumo a fazer todo começo de mês. 

Então acordei às 5h12. Bebi um chá mate que minha mãe trouxe do Brasil. Esquentei um pão com queijo pra comer no caminho. Fomos de train. 1,20 euro. Transporte público eficiente. Fui observando a paisagem do caminho que já tinha feito tantas vezes mas agora com 4 graus negativos de temperatura tinha uma geleira nas folhas especial. Adoro quando sai aquela fumacinha da boca. 

Assim chegamos "quase" pontualmente às 8h no Hospital Toregalli. O Careggi era outro hospital que eu poderia ter escolhido, mas por causa da experiência das meninas da igreja que tiveram seus filhos recentemente, de uns 8 meses pra cá, e por o Toregalli agora se chamar Novo Ospedale San Giovanni di Dio, achei inspirador prestar mais uma homenagem ao meu avô e ao meu padrinho. 

Logo que cheguei fui fazer o traciato. As enfermeiras colocam 2 faixas na sua barriga pra medir os batimentos cardíacos do bebê. Com um botão em mãos você indica quando seu filho se move (no intervalo de 1 hora é ideal que ocorra 5 vezes). E enquanto isto elas verificam a pressão da mãe. 

A Giulia nunca se movimenta nestes exames. Aí as enfermeiras se preocupam, pedem pra eu ficar de pé, me mexer, deitar virada de lado, até que eu explico que ela puxou a mãe e não vê nenhum sentido de acordar se não for pra comer. Ou seja, meu exame sempre se estende porque tenho que comer durante o processo. Elas pedem pra ser um chocolate (sonho meu), sempre como pão de queijo ou esfirra que é o que o marido fez e tem na mochila.

Depois de terminado o traciato elas registram no computador o resultado dos últimos exames e te encaminham pro ginecologista. O doutor verifica o nível do liquido amniótico e se iniciou a dilatação. Estou há 3 semanas com dilatação de 1 dedo (não sei o que significa em centímetros mas tem que chegar a 10).

De lá a enfermeira me levou pro quarto que vou ficar (stanza 14, cama 141) e enquanto não era encaminhada para consulta com a obstetra aproveitei pra conhecer as outras gestantes que ficariam comigo. Somos 4 no total. Todas teriam filhas meninas. Uma fez cesariana mas a filha estava separada dela no ambulatório, outra está aqui há 2 semanas porque a gravidez ainda é de 32 semanas mas estava sentindo muitas dores e acharam melhor ela ficar, e a última terá gêmeos hoje a tarde. Estou louca pra ver a carinha de todas estas bonecas. Tem um bebê chorando no corredor sem parar há umas 20 horas então acredito que não será nenhum problema ter 5 bebêzinhas fofas no nosso quarto.

Às 11h me chamaram pra ver a obstetra. Ela poderia ter me dado 3 opções de indução mas como meu colo do útero ainda estava espesso preferiu o modo mais natural e lentoooooo. Disse que não era pra ficar ansiosa porque neste caso poderia levar de 2 a 3 dias pra nascer.

Aí voltei pro quarto e tinha que ficar deitada por 1 hora pro gel não escorrer. A partir daí começou a fazer efeito. Eu achei que aquelas contrações de 3 em 3 minutos durando 20 segundos cada era o auge da dor, mas nem imaginava o que ainda estava por me esperar.

Às 2h da tarde começou o horário das visitas. Finalmente chegou a renca pra saber das novidades. Meu pai não conseguia comer, só sentia vontade de vomitar. Meu marido estava com tontura e numa ansiedade sem tamanho. Como só um podia entrar no quarto, mamy linda se apossou da cadeira e ninguém a tirava de lá. Meu pai e o Alexandre ficaram no corredor, então sempre que ocorria um update eu ia lá pessoalmente contar.

Uma das vezes que fui, estava em pé em frente eles, e a bolsa rompeu. Um momento  mágico. Aquele líquido amniótico escorrendo pelas pernas num jato forte e constante. Eram 4h40 da tarde. Enquanto minha mãe (que derepente começou a falar italiano: la borsa é rota) chamava a enfermeira, o nego me dava apoio pra poder caminhar até algum lugar que eu pudesse colocar um absorvente. 

A enfermeira me parou e fez outro exame. Disse que agora as contrações iam ficar mais fortes. De 60 a 100% de dor. Minha média era 55. Mas ainda eram contrações na parte de baixo da barriga que significava que só o colo do útero estava ficando macio (antes ele tem a textura de um nariz e já estava como a de uma boca).

A noite não seguiu como eu pensava. As dores não me deixavam de 1 em 1 minuto mas não dilatei nada. Na manhã seguinte a obstetra estava fazendo visitas no quarto e me viu contorcendo de dor. Assim me chamou pra ser a primeiro na consulta.

Ela viu que apesar de ter rompido a bolsa há 18 horas e liquido amniótico estar normal eu só tinha dilatado mais um dedo. Pediu pra eu fazer outro traciato e neste eu mal conseguia me manter. Tive descolamento de placenta e taquicardia fetal. Liguei no whats up do nego e disse calmamente. São 10h30. Sei que as visitas começam  às 2h.
Mas você pode pegar o ônibus e vir calmamente pra cá.  Faço elas te deixarem entrar. Ele achou que eu estava com muitas dores e precisava de apoio mas eu estava na sala de parto sendo preparada pra um questionário de perguntas. Dentre elas: quando foi a última vez que sentiu ela mexer e minha resposta foi: ela não se mexe há muitas horas.

Então veio outra médica e falaram: sinto muito te dar esta noticia mas vai ter que assinar este termo pra fazermos uma cesarea. Sei que já está em trabalho de parto há 24 horas mas não podemos mais esperar. Eu disse: Graças a Deus.

Me sentei. Enfiaram uma agulha enorme na coluna e logo a anestesia peridural pegou. Eu sentia as 7 médicas me virando mas não adormeceu completamente. Era mais um calorzinho.

A obstretra Elizabetta com seu colar de perolas vermelhas, me perguntou se eu era modelo, qual o nome da minha filha e fez a ordem às outras: são 11h34. Sejam rápidas. 2 minutos depois eu já estava escutando o choro forte dela. Ela chorou e eu senti uma lágrima escorrendo no canto do meu olho. Levaram pra medir e pesar na pediatra. Enquanto isto só fiquei olhando pra luz do teto e agradecendo a Deus pela vida que me foi presenteada.

Assim que trouxeram ela pra eu conhecer, continuando o berreiro mais lindo que eu já tinha escutado, colocaram ela no peito que acalmou imediatamente e abriu os olhos mais negros e japoneses. Lembro que pensei: - não se parece com ninguém.

Passado 5 minutos levaram pro pai que ficou com ela no colo, duro, na mesma posição por meia hora. Depois deram banho e colocaram um look amarelinho (tanto que 3 pessoas se confundiram achando que era menino). 

Ela mamou o colostro do meu peito. 30 minutos em cada e foi conhecer os avós da parte de mãe. Eu vi a cena um pouco de longe, deitada na maca. Meus pais e o padrinho Matheus abraçando o Alexandre. Chorando de emoção e dizendo que nunca viram nada tão perfeitinho. (Eu não achei, pra que fique claro, mas amanhã deve desinchar bem. Espero). 

Foi uma tiração de foto, postagem, contar a novidade pra familia até a hora que o papai da Giulia foi embora às 22h30. E a mãe ficou, anestesiada, com sonda pra fazer xixi e soro no outro braço, sem poder levantar da cama, mas tentando por durante 7 horas fazer a filha parar de chorar, só revesando o peito. Tenho fé que uma hora o cansaço vence a gente e vamos dormir. Quem sabe daqui uns 30 anos por aí...

No segundo dia, tudo andava calmo. Saber que no outro dia estaríamos em casa era como um anestésico. Não que eu pudesse reclamar por já estar 1 dia sem comer, mas aquele caldo ralo in brodo da comida do hospital não era o suficiente quando se está mal acostumada com um chef particular.

Meu irmão, um dos padrinhos, veio de Brighton para vê-la. Eu estava felicissima por isto. Todo mundo sabe que ele é o amor da minha vida e também poderia entreter nossos pais com outros passeios até dar a hora da visita: das 1h às 6h.

Quando ele tinha acabado de tirar fotos lindissimas com ela e ido pro corredor esperar eu fazer minha bateria de exames que ia desde injeção de acido folico, outra de ferro, oxitocina, limpeza do corte da cirurgia, prelievo para novos exames, antiflamatórios, lavagem com balde e aplicação de supositório, chegou uma enfermeira pegando a Giulia da culla (ao lado da minha cama) e dizendo: - Estou levando sua filha. Ela pegou uma infecção grave por termos demorado muito tempo para fazer a cirurgia depois que a bolsa se rompeu. Se despeça dela porque vai ficar 5 dias na terapia intensiva recebendo antibiótico na veia e não poderá receber visitas.

Neste momento, o que eu não chorei quando ela nasceu, chorei ao ver minha filha sendo tirada de mim tão frágil e pequenina. Eu tinha acabado de ouvir um audio do Benjamin dizendo que estava bravo com todo mundo porque estava com ciúmes da Giulia. Muito fofoooo, tanta saudade que tinha me feito soluçar.

Mas não se compara ao susto que o Alexandre levou ao ver o berço da filha sair do quarto e sua mulher atrás chorando e curvada de dores, inclusive na alma.

Ela não poderia mais ver os avós até quinta. 1 semana depois de quando cheguei aqui. A não ser por meia hora através de um vidro, como um ser intocável.

Já eu seria chamada toda vez que ela chorasse pra amamentá-la e meu marido poderia ficar com ela das 11h às 22h.

A primeira bateria de exames foi terrivel. Furar os pezinhos, mãozinhas e braços pra colocar a sonda e vê-la ser ligada à aparelhos pra monitar a frequência cardíaca e a respiração. Engraçado que outro dia perguntei se furavam a orelha dela no hospital e perguntaram totalmente chocados se fazem isso com bebêzinhos no Brasil?????

Foram dias e noites longas e duras. Me dividir entre o segundo e o terceiro andar da maternidade. Fazer meus exames e acompanhar os dela.

Um bom exemplo do significado da maternidade foi ontem, às 6h da manhã, quando 4 médicos começaram a medir minha pressão, tirar 3 potinhos do meu sangue pra exame, dar antibiótico na veia, colocar supositório, fazer tomar comprimidos de ácido folico, ferro, fazer curativo no meu corte da cirurgia, dar injeção de oxitocina na bunda, chegaram 3 pessoas pra eu votar pra mudar ou não o País, e a diabetologista pra eu escolher o cardápio do almoço (que sempre foi minestrone ao brodo, ou seja macarrãozinho de criança com caldo knor de verdura mesmo que eu escolhesse pasta ao pomodoro) ao mesmo tempo ainda na cama. Derepente aparece uma enfermeira na porta: - corre pro segundo andar que sua filha está chorando. E você larga tudo parecendo o corcunda de notredam e ainda tem que subir escada porque o elevador não parava no andar.

Ela sempre pegou o peito direitinho. Aqui o verbo é chuchar. Chuchava a madrugada toda e pela manhã não queria saber de acordar.  Isto fez com que ela engordasse 200 gramas no primeiro dia, mas perdesse 150 no segundo. 3 doutoras vieram falar comigo em idiomas diferentes: italiano, inglês e espanhol. Achavam que eu não tinha entendido a necessidade de tirar o leite e deixar no refrigerador caso, pesando ela antes e depois de cada mamada, não tivesse absorvido 40 gramas de leite por vez. Sei que o colostro alimenta até mais do que o leite, mas o organismo só absorvia umas 16 gramas. Então passei a não dormir, não comer, não ir ao banheiro. Com a diferença que em casa eu teria ajuda. Aqui eu troco a fralda, aviso as enfermeiras se fez xixi ou coco, peso, amamento, peso, cortinado, tampar a luz do rosto, espera e vai.

Mas a verdade é que eu não queria correr o risco deles darem mamadeira pra ela e meu leite não descer ou ela não querer mais saber de sugar. É trabalhoso. Pensa que não.

No quarto dia saiu o leite. Veio jorrando. E mesmo estando em andares diferentes quando meu peito enche sei que ela quer mamar. Vou pingando. Isto fez com que regulassemos nossos horários a cada 2h.

E os dias seguiram assim até quarta, quando fomos liberadas pra voltar pra casa. Eu acordei às 5h da manhã, me maquiei e fiquei pronta pro médico me liberar, o que aconteceu ao meio dia. Depois foi só pegar alguns remédios na farmácia pra continuar o tratamento de antibiótico por mais 3 dias em casa. Mas a infecção praticamente tinha curado. 

Foi tão inesperado que ao chegarmos em casa nem meus pais estavam. Tinham ido conhecer o Jardim di Boboli. Então apresentamos o novo lar pra Giulia, esperamos a vovó Cáritas pra dar o primeiro banho e tudo parecia calmo demais quando a noite chegou. Giulia não estava adaptada. Nem a gente. Eu não precisava pular da cama, esperar elevador, correr de um andar pro outro, mas também não tinha as ferramentas certas pra trocar uma fralda, e ela se recusava a fechar os olhinhos. Foram 8 horas em claro, entre soluços, choros, cólicas, e nós tentando interpretar porquê ela resistia tanto descansar.

Hoje, 10 dias depois, estou com infecção nos grampos da cesariana. Isto mesmo, não fui costurada e sim grampeada. E eles estão cheios de pus. Como se a cada pequeno movimento fincassem mais na minha pele. Já os quilos, que tantas mulheres se preocupam em perder e eu, tão inchada, nem lembrei de pesar, perdi todos que ganhei na gestação  (9 quilos - meio a mais dos que cheguei aqui na Itália). 

Este foi meu parto. Um deles. Porque o que prevejo é que agora serão 1 por dia.


quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O que está faltando no enxoval da Giulia

Nos últimos dias meus amigos estão mandando mensagens, super ansiosos, porque me perguntam o que falta pro enxoval da Giulia e eu digo tudo, na maior calma do mundo. Eu não quero deixá-los preocupados, mas eles não tem a menor obrigação de me encher de presentes.

Resolvi fazer uma listinha pra você que, assim como eu, é mãe de primeira viagem e acha que pra um bebê chegar no mundo só precisa de leite e amor. E dizer que 2 meses ainda dá tempo de se organizar. Respira fundo e vai.

O que está faltando no enxoval:

Kit higiene:

Trocador de fralda
Fraldas
Pomada de assadura
Sabonetes
Shampoo


Kit berço:

Protetor pra colocar no vao entre o colchao e o berco (almofadado)
Cortinado (tem muitoooo pernilongo aqui)
Babá eletrônica
Cabides


Kit amamentação:

Camisolas com abertura na frente
Calcinhas pós parto
Absorvente de seio para colocar no sutiã



Sei que algumas amigas que já tiveram filhos vão falar que a lista é muito maior do que esta, mas este são com certeza os itens essenciais.

O primeiro comboio do Brasil sai agora no mês de outubro. Meus pais vem dia 25 de novembro. Meu irmão 1 de dezembro. E minha irmã com minha sogra dia 13 de dezembro. Espero todos vocês aqui. Estão super convidados. Não demorem muito tempo pra comprar a passagem. Somos uma família de andarilhos que gosta de morar cada ano em um lugar.

Beijocas e muito obrigada.



domingo, 18 de setembro de 2016

Eu escolho ficar

Vivemos diariamente a consequência das nossas escolhas. E isto é incrível quando você tem a maturidade suficiente pra entender que não existem escolhas certas ou erradas.

Passei 35 anos acreditando que não tive escolha, fui escolhida.
Lembro quando me apaixonei a primeira vez. Eu deveria ter uns 8, 9 anos. Ele era o menino mais levado da turma, faltava aulas, não fazia as tarefas (na verdade, eu fazia pra ele), lembro de uma vez ele pular o muro pra fumar e eu ficar do outro lado vigiando se nenhum professor aparecia. Um dia, quando tínhamos 12 anos fiquei sabendo que ele tinha sido preso. Bom, digamos que percebi que eu não iria casar com este cara. Eu era nerd, sem graça, gordinha, ele nem sabia meu nome e eu dançava quadrilha todos os anos com um garoto um pouco menor que eu. Não tinha escolha. Eu era uma cabeça maior que meus colegas. Era como ser o último na divisão do futebol. Sobrou você. Fazer o que? Vem pro meu time. Mais tarde também fiquei sabendo que este menino ficou 6 anos pedindo pro papai noel pra crescer e ficar à minha altura.

Levei uns anos para me apaixonar novamente. Eu tinha 14, tranças no cabelo, macacão jeans. Era a única que não usava maquiagem. Ele tinha 16. Era da minha sala porque supostamente repetiu 2 vezes o primeiro ano. Não ligava dele ser mais velho, o que importava é que era lindo e não dava bola pra ninguém. Mais uma vez meu radar ligado no impossível, imprevisível. Como juntar uma menina, que sempre foi segundo lugar da sala, absolutamente tímida com o carinha que sentava no fundão? Então um dia, precisamente, 20 anos atrás, foi aniversário de 15 anos da nossa amiga e eu tinha acabado de voltar da Disney, o qual foi uma experiência péssima, pois eu não tinha idade pra viajar sozinha, não porque não era responsável, mas porque era tão tão responsável que nenhuma menina da minha idade queria dividir o quarto com a nerd, sem graça, gordinha que não sabia nem qual era sua cor preferida. Bom, mas o importante é que comprei um DVD pra um amigo do meu pai e ele me deu de presente 100 reais por ter trazido a encomenda, o que me fez comprar meu primeiro vestidinho preto, da Ellus, e eu estava linda, dançante, finalmente com os cabelos soltos e ele me chamou pra conversar. Foi assim que dei meu primeiro beijo e a Amanda me ligou no outro dia dizendo: - Sonhei que você deu seu primeiro beijo. Aí na segunda, de volta a aula, vi uma foto dele de quando tinha uns 12 anos de idade. Ele não estava tão bonito assim e eu pensei que nossos filhos também não seriam bonitos e resolvi parar de sofrer depois de uma semana alugando o ouvido do meu melhor amigo e fazendo poemas pro menino mais disputado da sala.

Depois de uns 4 meses, numa tarde de estudo como todas as outras, só que na minha casa, um amigo, o primeiro lugar da sala, nerd, sem graça, magrelo, me deu um selinho durante uma brincadeira de verdade e consequência em que preferi a consequência já que nunca gostei muito da verdade. E ele me disse que sabia que eu não gostava dele, que teria vergonha de contar pra turma, então a gente poderia namorar em segredo até que eu começasse a chorar por ele e fazer poemas. Mais uma vez eu fui escolhida. Então chegou a hora do vestibular. Nos mudamos de cidade. A gente mudou muito. Ele se tornou uma pessoa absurdamente interessante. Eu perdi uns quilos e ganhei umas espinhas.

E em Ribeirão meu radar atacou novamente. Me apaixonei logo no primeiro dia pelo veterano que deu meu trote e ficou com todo dinheiro que arrecadei no semáforo para fazer um churrasco. Eu era nerd, sem graça, caipira. Ele era o menino de sobretudo preto e coturno rock and roll que ficou com a minha melhor amiga porque não queria nada sério com ninguém. Depois de uns 3 meses, tive sorte do bad boy entender que o lado negro da força não combinava muito bem com o que tinha por trás daquele óculos escuro redondo e ele se tornou o cara mais bonzinho do mundo. Tão bonzinho que depois de 5 anos o relacionamento acabou. Por telefone, Sem dor, Como tinha de ser.

Aí voltei pra Goiânia. Arranjei meu primeiro emprego. Emagreci 20 quilos, E derepente, depois de 1 ano sem beijar ninguém, apareceu um menino no serviço. Este era o pior dos piores. Meu radar quase teve um colapso. Tinha uma noiva, usava drogas, amigos barra pesada e se interessou pela menina nerd, sem graça, careta, eu. Foi quando dei graças por nunca ter podido escolher e mais uma vez fui escolhida.

Um dia depois do meu aniversário, feliz por ter feito a festa infantil dos meus sonhos e ter convidado todo mundo que um dia já tinha conhecido, meu nego começou a trabalhar no meu serviço. Sentou na minha frente. Eu definitivamente não vi nada nele. Mas ele começou a fazer poemas, postar no fotolog que criou pra mim, me convidou para ir num festival de música sertaneja que certamente não era o seu gosto musical, me levou pro pit dog e disse: A gente tem que gostar de quem gosta da gente. Agora eu vejo que já sabia disso, a vida estava me ensinando desde que eu tinha 8, 9 anos, mas poucas pessoas dão realmente oportunidade pra isto acontecer. Elas já vem carregadas de senãos, de manias, de predileções, ou é como eu sempre sonhei, sem defeitos, sem brigas, sem abrir mão, ou nada feito. Ou ele chega perfeito, com as palavras certas, o olhar devastador, o jeito de pegador ou melhor ficar sozinha. Bom, sou a prova viva que precisamos dar uma chance. Não só para os relacionamentos, mas pra nós mesmos. Eu sempre fui escolhida. E ficava completamente sem entender o que uma pessoa tão boa via numa nerd, sem graça e gordinha. Acho que por isso tinha tendência a me interessar pelos caras maus. Inevitavelmente sabia que um dia terminariam comigo e eu já estaria esperando por isso.

Eu levei uns 8 meses para me apaixonar pelo meu marido. Primeiro tive que conhecê-lo, me conhecer, ajustar muitos pontos, descobrir cada um dos seus lados e perceber que eu amo até do avesso. Depois passei por uma fase de: como ninguém vê o quanto ele é a pessoa mais especial deste mundo? O que posso fazer pra mostrar como ele é um homem bom? Por fim eu percebi que não precisava provar nada pra ninguém. Infeliz daquele que não tem a oportunidade de conviver com ele diariamente, que não consegue enxergá-lo com os olhos do coração. Foi aí que eu vi que eu não fui escolhida.

Nós escolhemos dia a dia respeitar nossas vontades e estimular os sonhos.
Nós escolhemos admirar cada uma das milhares de qualidades.
Nós escolhemos nos surpreender com as novidades que nunca param de surgir,
Nós escolhemos conversar, conversar, conversar e só parar na hora de dormir pra também poder contemplar o silêncio que habita ali dentro.
Nós escolhemos que nossa casa é o melhor lugar pra se estar porque quando abrimos aquela porta temos certeza que encontraremos o sorriso mais sincero e alegre.

E todos os dias eu escolho ele, pois o seu coração é o meu lugar.


A luz de dentro

Tem um momento do dia que é simplesmente mágico.
O sol entra por aquela janela como se eu tivesse esquecido de desligar a luz do quarto.
Ainda não é noite. Não tem o gosto amargo de quando você dorme pela manhã e quando acorda o dia já passou. Não dá a impressão de que foram mais horas em vão no vazio da insignificância.
São os últimos raios de sol. E você bem que poderia ter desejado por meses uma trégua do calor, mas nunca de sua luz. É lindo. Palpável. Se você pára para observar, mesmo que apenas como expectador, consegue sentir a mão divina pairando ali, a presença dos seus pais protegendo, acolhendo.
Então você se dá conta que sim, é apenas mais um dia que talvez você nem tenha saído do sofá, mas você fez muita coisa: gerou uma vida de maneiras que seu corpo, alma e coração nem acreditam. Uma vida que está aprendendo dia a dia, assim como você, a dar o seu melhor para sobreviver a este mundo louco.
Tem um momento do dia que é simplesmente mágico e você sabe, não porque te contaram, você simplesmente sabe que não está sozinho.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Honey Baby

Minha honey baby,
Quando eu tinha uns 19 anos meu amigo Gustavo, um grande músico e redator, sentou no chão de casa em Ribeirão Preto e só saiu de lá quando conseguiu me ensinar a tocar Vapor Barato no violão. Desde então eu nunca toquei outra canção. Só intercalei ao cantar Espumas ao Vento, mas tocar mesmo foi a única que consegui aprender. Obrigada Gu.

Minha honey baby,
Há 1 semana você se materializou na minha frente. Passou a não ser apenas um sonho de 20 anos atrás. Eu e minha mãe fomos em uma ginecologista e ela tentou de tudo saber seu sexo. Fez ultrassom, intravaginal, e você só bocejava e dava xauzinho. Abrir as pernas de jeito nenhum. Super calma e recatada. Chocólatra igual a mãe eu já sabia que não era. Essa foi até umas das supertições que me fizeram acreditar que eu estava esperando um menininho.

Já estava me dando por satisfeita quando a médica resolve dizer: - mas posso dar um palpite? e antes que eu pudesse dizer: - não, pelo amor de Deus, não aumente minha expectativas senão nem vou dormir... ela disse: - acho que é menina. E uma lágrima saiu dos meus olhos.

Aí você já pode imaginar que eu não tive mais sossego. No outro dia estava indo pra Uberlândia matar a saudade dos meus avós e tias. Ia ter um chá de bebê organizado com tanto carinho pelos meus padrinhos. E eu não ia compartilhar com eles o melhor momento da minha vida?

Minha honey baby,
Mandei um whats up pro Tio Guto que me disse: - Posso fazer um ultrassom se você chegar em Uberlândia até 5h30 da tarde. Meu pai correu o máximo que pode pra chegar, mas só chegamos 6h40. Então meu tio não desistiu. Reabriu o hospital e fez o exame em mim. Foram mais 50 minutos virando, revirando e você tranquila, sentadinha, no máximo dava uma espreguiçada. Levantei, dei uma sambadinha, fiz acrobacias e ele disse: - é uma menina. Minha mãe segurou em minha mão, beijou meu rosto, ela tinha o sorriso maior deste universo. E eu falei: - Não quero nem ver. Aí ele mostrou pra minha mãe, em um monte de borrão, que tinha 2 rachadurinhas. Tem que ter muita fé e experiência pra ver algo ali.

Antes de chegar no carro já liguei pro nego. Era1h30 da madrugada em Firenze, mas ele ainda estava no trabalho. Saiu um pouco do barulho do restaurante e eu disse: - Quer saber se é menino ou menina? e ele: - É a Júlia, lógico. E eu confirmei: - É a nossa Júlia. Ele gritou: - Não acredito! Foi um momento mágico.

Depois deixamos o tio Guto na casa dele e a tia Adriana me deu um sapatinho amarelo mais fofo deste mundo. Ao chegar na vó Diná, a tia Mara já estava esperando lá embaixo e perguntou: - É a Júlia, né? Quando eu afirmei que sim com a cabeça, ela pulou tão alto e vibrou com as mãos que nunca vou me esquecer desta cena. Foi lindo madrinha. Obrigada. Ela dizia que tinha certeza, que sempre acreditou na espiritualidade e esta menina estava destinada a mim e ao Alexandre. Foi aí que eu chorei.

Minha honey baby,
Subi pra contar pra minha vovucha, o tio Naninho e meu pai. Afinal, só ele e o Alexandre acreditavam que era você. Afinal, como eu disse: eu parei de comer chocolate assim que você existiu em mim. Só dava bola pra alimentos bem salgado; senti dores extremas do segundo ao terceiro mês, todo dia você inventava uma coisinha nova; eu emagreci 9 quilos no primeiro mês de gravidez e minha barriga é super pontuda, só cresce pra frente. Vê só? Todos os indicadores me fizeram pressionar seu pai a começar a escolher o nome do seu irmãozinho e na lista já tinha: Vicente, Vinicius, Vitor, Max, Lorenzo...

Mas no final das contas, era você. Sempre foi você. E vir passar estes 10 dias no Brasil pra ganhar mimo de todos e voltar reernegizada pra começar uma vida nova na Europa foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado.

Obrigada família por todo apoio, carinho, dedicação, presentes. Nada vale mais do que a família e agora ela só vai crescer.




sábado, 18 de junho de 2016

Pra voce nascer foi um parto

Apesar de tudo, gosto de colecionar historias. Tenho total consciencia de que quando uma pessoa te pergunta como foi a viagem ela nao quer saber em detalhes toda trajedia do seu dia. Pior ainda quando me perguntam: a gravidez esta tranquila? E eu resolvo a dizer a verdade desta grande saga. Tem gente que pergunta e ate sai andando sem ouvir sua resposta... Entao se voce ainda nao saiu andando, vou contar o que me aconteceu ontem.

Esta historia era pra se chamar: Pra dancar CREU tem que ter disposicao, mas como nao cheguei a desembarcar no Brasil achei mais apropriado: Pra vocer nascer foi um parto. Pois e meio assim que me sinto agora, tendo que ter meu filho sem qualquer assistencia medica como as mulheres de antigamente. Sozinha e completamente dilacerada.

Passei a semana tentando comprar a passagem para o Brasil. Eu, minha mae, o alexandre, o matheus tentamos pela tap, britisjh airlines, aireuropa. Mas toda vez que a gente ia efetuar a compra ou caia a conexao ou a companhia aerea mandando um email dizendo que a reserva nao tinha sido concluida, mas pra tentarmos realizar uma compra era preciso esperar 24 horas. Por fim, mesmo querendo viajar na quarta me conformei que teria que adiar ate sexta, pra chegar em guarulhos sabado pela manha. Nesta altura do campeonato nem nos importava mais se a passagem de 2500 ja estava custando 4000.

Entao ontem ao meio dia fui ate a estacao pegar um trem para o aeroporto. Brighton fica a 1 hora de Gatwick. Nao consegui taxi e fui empurrando uma mala de 27 quilos ate la. Deve dar uns 25 quarteiroes. Chegando na estacao comprei um ticket para as 12h30 e fui vendo a cada minuto os trens sendo cancelados um a um. Tive que esperar ate 2h da tarde pra finalmente sair o primeiro, completamente lotado.

Como eu sempre saio bem antecipado, so teria que apertar um pouco o passo. Ao chegar no aeroporto, fui fazer o check in e o senhor diz que nao tem nenhuma passagem em meu nome, muito menos uma reserva com o localizador que eu havia impresso. Ele vai ate a gerencia e depois de alguns miutos volta dizendo que a passagem nunca havia sido comprada. Da um trabalhao pra reaver minha mala que ele havia acabado de passar pela pesagem.

Entao ele me manda para o quiosque de informacoes do aeroporto, que ja sabe do meu problema mas diz que nao pode ajudar pois o voo esta lotado e se eu pudesse comprar aquela hora estaria quase o dobro do preco. Mas eu poderia tentar com a central.

O que e esta central? A Aireuropa onde todas funcionarias so falam espanhol e pra eu conseguir falar com elas tive que sair do aeroporto, procurar um orelhao, descobrir como discar e ficar 40 minutos colocando moedas ate ser ouvida por 9 mulheres e finalmente a ultima conseguir me ajudar. "Em partes". Ratica, este era o nome da mulher, com toda sua boa vontade manteve o valor de quase 800 libras e tentou passar o cartao de credito. Uma, duas, tres vezes. Ate que disse: voce tem que falar com seu banco e perguntar porque nao esta passando e voce tem que fazer isto em 10 minutos senao perde o voo e a reserva.

Nesta altura eu ja estava em prantos. Como eu ia explicar pra Ratica que todas minhas moedas tinham acabado, que eu nao sabia o telefone do Santander e se eu tentasse ligar pro Brasil aquela hora o banco nem estaria aberto? Resolvi entao contar com a sorte. Voltei pro quiosque do aeroporto, disse que estava tudo acertado e que era pra eles passarem o cartao na maquininha que eu pagaria ali mesmo.

Ufa, passou. Ou ao menos acreditei nisso.
Fui fazer o check in, o cara desconfiou. Mas embarcou a mala.
Fui passar no raio x, o cara desconfiou. Pediram para eu tirar quase toda roupa e ainda fui bipada passando por uma revista especial. Mas me liberaram.
Fui passar pela alfandega e eu so disse: Me deixe voltar pra casa.
Fui passar na sala de embarque e quando apresentei o cartao: - Espere um momento senhora. E vieram 2 guardinhas verificar e deixar eu passar.

Ja estava em cima da hora mas o grupo de turistas adolescentes, uns 49, estavam se divertindo a todo gas. Sem sinal de que nos chamariam pra entrar no aviao nos proximos minutos. Passaram 2 horas e eu definitivamente ja estava preocupada pois perderia a conexao em Madrid para o Brasil, quando nos chamaram pra entrar. Uma fila desorganizada se formou e eu fiquei bemmm atras. Mas finalmente entramos no aviao. Quando eu acomodava minha bagagem escutei a comissaria dando um aviso: - Voces precisam descer. Chamamos 2 engenheiros para verificar uma pane eletrica. Seguranca em primeiro lugar.

Neste momento eu entendi. Era este o aviso que estavamos esperando do destino. Estava tudo dando errado, mas a pane foi descoberta antes de embarcarmos, entao toda onda de ma sorte acabaria ali e viajariamos saos e salvos. Pelo menos era isso que eu queria acreditar.

Voltamos para o saguao e ali eu fiquei mais 5 horas olhando para o grande telao que indica qual o novo portao de embarque. Confesso que cheguei a me deitar no chao por alguns minutos, tentando acomodar a barriga. Eu e os outros 49 adolescentes que nesta hora eu nem estava achando mais insuportavelmente felizes e estridentes assim. Derepente aparece no telao: dirijam-se ao service desk.



Bem nesta fila escuto um grupo de brasileiros tentando conseguir um voo direto pro Brasil. Eles ja tinham feito todo o dever de casa. Ja sabiam que o proximo pro Brasil so sairia as 23h do dia seguinte, entao teriamos que ir pra Madrid as 10h da manha e esperar no aeroporto mais um dia inteiro. Ou... foi ai que eu entrei na historia. - Ola, voces tambem vao pra Sao Paulo. E a Leidiane brincou: - Opa, voce esta gravida? Vamos cortar esta fila.

A gente se juntou e fomos todos (eramos 6, assim como na novela, lembrou o Abner), tentar achar uma solucao. Neste momento ficamos sabendo que ainda tinhamos que esperar todos chegarem pra pegar as malas e esperar novamente por instrucoes. Mas para isso teriamos que "entrar" novamente em Londres e isto significava pra dois dos nossos atuais colegas que estavam ilegais ha 3 anos a possibilidade real de serem deportados ao invez de seguirem para um hotel com a gente com tudo pago. Apesar de que este negocio de assistencia da companhia acho uma lenda, ja era 10h da noite eu passei o dia todo sentada no chao, sem comer, nem beber agua. Nao ia ser de uma hora pra outra que comecariam a ser prestativos. Voltando aos colegas, tentei ajudar com todo meu ingles que nao fossem condenados e expulsos. E inacreditavelmente os guardinhas entenderam que era melhor eles irem embora com a gente, pois ja haviam comprado a passagem, do que terem um custo maior deportando os rapazes.

Agora ja tinha amigos pra me ajudar a carregar as malas, me darem agua, fruta, e ainda emprestar o celular. Eu tinha passado o dia incomunicavel e era crucial avisar minha mae pra ela cancelar ou comunicar a Avianca que eu nao pegaria o voo de Guarulhos pra Goiania, avisar o Ben que nao veria a madrinha as 5h da manha de hoje, avisar o nego que estava tudo dando errado, mas no final, tudo daria certo. A recompensa valeria a pena.

Foi ai que o inesperado aconteceu. Minha mae nao se contentou em escrever no whats up e me ligou no celular do menino. Do outro lado, chorando, me pediu: Filha, nao entre neste aviao. Seu pai esta ha dias sem dormir preocupado com o Zica virus (ainda mais aqui no Jao) e depois de tudo que aconteceu nao so hoje, mas toda esta semana, nao queremos que voce venha ate ter nosso bebezinho.

Imagina a cena: eu era a primeira de uma fila imensa esperando respostas de que hotel eles nos mandariam e que horas seria exatamente o nosso voo, e quando dei por mim ja estava sentada no chao aos prantos. Eu falava coisas aparentemente sem sentido pra minha mae.
- Maeeee, eu nao sei cozinhar, quero pamonha.
- Maeeee, daqui 1 ano quando o bebe puder fazer uma viagem internacional, eu nao sei como estarao minhas vovuchas.
- Mas maeeee, eu vou pegar uma infeccao aqui, eu preciso saber se o bebe esta bem, eu estou numa gravidez de risco, eu so vou ser atendida daqui um mes, ninguem comeca um pre natal com 5 meses de gravidez, eu tenho 2 chas de bebes esperando por mim, nos vamos descobrir o sexo do bebe juntas....
Mas nao adiantou. Tive que respeitar a intuicao da minha mae que nunca chorou muito menos e do tipo de acreditar nessas coisas.

Corri pra pegar o ultimo trem pra Brighton e apesar de parecer que tinha sido ha meses atras, eles continuavam com o mesmo problema de manha, estavam sendo cancelados. Cheguei na estacao 11h40 e esperei por meu irmao que minha mae jurou que estaria la pra me ajudar com a mala pois eu nao tinha um centavo pro taxi. Esperei meia hora pra garantir que ele nao iria mesmo e nao iriamos nos desencontrar. Ai pedi o celular emprestado pra uma menina e ele me disse pra eu pegar o taxi que ele ja iria pra porta pagar pela corrida.

Chegando no meu irmao finalmente consegui conectar no meu celular e apesar de tudo que havia vivido e da inconformidade de passar os proximos 16 dias sentada no sofa do meu irmao, eu havia recebido uma mensagem ainda pior. O pai de uma das minhas melhores amigas havia falecido e eu nao estaria la pra consolar ela hoje. Eu nao estaria la no proximo ano, e eu nem tinha direito de sentir tamanha dor em meu peito. Um senhor extraordinario, um marido admiravel, um ser humano unico, um pai amoroso e nenhuma palavra neste momento seria capaz de dizer o quanto eu sentia muito, e sentia saudade do tio, e sentia nao ter o poder de tirar um pouquinho da dor dela e passar pra mim.

Foi nesta hora que chorei, chorei, chorei ate dormir.















quarta-feira, 15 de junho de 2016

Um pouquinho de paz

Caramba, nem sei por onde comecar. Alias, nao sei muito mais coisas do que isso. Como por exemplo, onde e a acentuacao aqui no teclado do meu irmao (peco a compreensao de voces e que tentem ler, pelo menos dessa vez, este texto sem acentos - o que nao deve ser tao dificil pois sofrem com isto diariamente no facebook).

Bom, no ultimo mes meu computador quebrou (tenho uns 4 textos nao publicados doidinhos para serem compartilhados: dicas de como arranjar um apartamento pra morar na europa, a saga para pegar a permesso de soggiorno, curiosidades que a gente tem no terceiro mes de gravidez, a ansiedade de uma mae que sempre soube o sexo do bebe mas precisa ter certeza), mas enquanto eles nao estao aqui, vou pedir a permissao pra pular esta parte da historia e ir direto para a reviravolta das 2 ultimas semanas.

Meu marido arranjou um emprego em Firenze. Ele resolveu procurar primeiro em um restaurante brasileiro. Ja que ainda nao sabemos falar italiano (apenas algumas palavras que foram absorvidas pela necessidade crucial de nos comunicar), a ideia de ir a uma churrascaria, de gauchos, que estao na Italia ha 20 anos, foi prudente. Logo, eles pediram pra fazer um teste e no outro dia ja foi contratado. Nao vou entrar no merito do salario neste post, mas a gente precisava comecar por algum lugar. Parabens pro nego.

Porem, como ainda nao tinhamos conseguido alugar um apartamento depois de 4 meses de procura incessantes, tivemos que nos separar por alguns dias. Ele iria dividir o quarto com um colega de trabalho e eu ficar em Serre de Rapolano. O que implicaria alem de uma imensa solidao, em insuportavel solidao seguida de repulsa pela minha propria comida, que alem de feia, nao tem sabor.
Mas tudo bem, sobreviventes sobreviverao.

Eu sabia que em uma semana, no dia de folga, ele pegaria um trem e depois de 3 horas estaria comigo pra fazer um piquenique de aniversario. So nao sabia que neste meio tempo aconteceria o pior que poderia acontecer com a familia da minha prima, e que a gente nao saberia lidar com tanta dor (mas nao posso falar disso, e muito particular). No dia 8, ao acordar, me emocionei com uma linda surpresa. A Gigi me deu um lindo vestido e o Joao minhas gerberas preferidas. E o nego estava la, fazendo hamburguers, pizzas, bolos, pipocas, comprando baloes, velas, enfeites. Tudo pra me deixar feliz e entreter a criancada. So nao previamos que ia chover, que a assessoria ia chamar a familia pra conversar em Siena, que ia anoitecer, que iam montar uma barraca na grama do parquinho.

Tivemos que cantar parabens na sala mesmo. Mas foi uma linda festa, por causa de companhia tao agradaveis. E no meio de uma gulodice e outra fiquei sabendo que o contrato da casa tinha vencido (ficamos la por quase 2 meses), era hora de partir. Passei o restante da noite procurando pra onde ir. Eu e meu celular nao somos muito amigos, entao ele me da todo trabalho possivel quando preciso comprar uma passagem. Foram 9 horas sem dormir pra so passar uma unica solucao pela minha cabeca: ir para o meu irmao. Ha 2 meses atras, passei 1 mes em Brighton e achei que nao ia mais voltar, ja que ele esta se mudando pro Canada em breve. Mas tambem eu tinha a desculpa de pegar uma mala que deixei pra tras e estava morrendo de saudade dos meus vestidinhos.

Na minha seguinte pegamos um trem pra Firenze, fechei o contrato do apartamento (vamos nos mudar dia 4 de julho) e vim pro meu irmao. So la do alto que me dei conta que eu nao raciocinei direito. Eu ainda tinha 24 dias pela frente, ia gastar horrorres em libras e estaria perdendo tanto tempo precioso no sofa quando deveria estar fazendo os primeiros exames do meu bebe. Estou na decima sexta semana e ainda nao comecei o pre-natal devido a imensa burocracia de nao ter um contrato de aluguel pra comprovar minha residencia na comune. Eu deveria estar viajando para o Brasil.

A ideia continuou na minha cabeca. Martelando, martelando, mas eu ja tinha gasto mais de 1500 reais so com as passagens pra Londres, nao poderia dar mais este gasto para os meus pais. No sabado, primeira compra de supermercado, 30 libras (150 reais, so para as refeicoes de 1 dia). Isto nao ia dar certo. No domingo, me resignei a nao sair de casa, era pisar pra fora e sentir como se tivesse que pagar pelo ar que estava respirando. Na segunda, meu pai comentou que queria aproveitar que os filhos estavam juntos, pra ele vir ver minha barriga enquanto minha mae matava a saudade do caculinha, mas como eles nao estao de ferias, seria so um final de semana. Achei maravilhoso. Ia acalentar meu coracao. Mas o problema so seria remediado, nao resolvido. Na terca minha vo Dina mandou uma foto no grupo do whats up, mostrando o novo apartamento e dizendo que se mudou pra bem pertinho da vo Manoela. E perguntou: quando voces vem me visitar. Eu respondi: se meu pai deixar, vou agora. E ele completou: por mim, voce vem ontem.

A partir deste minuto ja estavamos eu em brighton, minha mae em goiania e o alexandre em firenze procurando uma passagem para embarcar no dia seguinte. Vou encurtar a historia. Mas gastamos inimaginaveis 45 horas nao so pesquisando, mas tentando efetuar a compra. Ao colocar o numero do cartao, a internet caia, o cartao nao era aceito, a reserva nao podia ser efetuada, acabavam as vagas, teve voo que ate chegou a ser cancelado. Estava absurdos 2500 e depois de 2 dias conseguimos comprar por 4000 reais. Concluindo, era pra eu estar viajando de TAP, e chegando em Brasilia nesta tarde, agora perdi uma semana, viajarei pela AirEuropa e chego em Guarulhos no sabado de madrugada (o que nao vai permitir que eu veja meu afilhadinho, snif, ia ser tao maravilhoso poder abraca-lo, ver se ele ainda lembra de mim).E no fim, terei so uma semana intensa de exames e consultas.

Mas vai valer cada segundo. Serei mimada como sempre imaginei, vou ficar tranquila vendo que o baby esta bem, e poderei matar a saudade de tanta gente e de tanta coisa. Ate de pamonha de sal.

Torcam pra Zica passar longe.






sexta-feira, 20 de maio de 2016

Que beleza!

Esta semana a família recebeu mais uma linda notícia. A Gabi, minha prima, vai ser mamãe. Ela está gravidinha de 4 semanas e assim que descobriu correu para Uberlândia pra contar a família de uma maneira divertida e muito, muito emocionante.

Imagina seu marido fingindo que está tirando uma foto dela com os pais, quando na verdade estava filmando para registrar o momento com tanto carinho. Super criativo, né?

O Lu disse:
- Digam Xiiiissss
Agora digam:
- Vou ser vovó

Foi a coisa mais fofa do mundo. A avó Delita deu um pulo, a tia Marisa um grito, os pais, é lógico que ficaram surpresos e felizes (com direito a um longo abraço e uma coçadinha na cabeça pra fazer a ficha cair, hehehe).

No outro dia fiquei pensando: ainda bem que a Gabriella fez aquelas luzes incríveis no cabelo uma semana antes no salão da mãe dela. Ela está mais do que poderosa, iluminada.

Parece uma futilidade o que vou falar agora, mas a maioria das mulheres sabe que terá que abrir mão de alguns rituais de beleza quando engravidarem, mas muitas não têm ideia (e me incluo neste time) que será bem mais do que o fato de ficar mais de 1 ano sem pintar os cabelos (o meu já está branquinho – exageradaaaa).

Agora você tem que se preocupar com:

- MAQUIAGEM

Ela pode conter alguma substância que faz mal pro bebê. Adeus base, pó compacto, blush, sombra. Eu que estava acostumada a me maquiar pra ir na padaria, ainda me dou ao luxo de usar o lápis de olho e em ocasiões mais do que especiais, o rímel. Mas posso estar sendo imprudente, portanto, pesquise bem.

- CREME

Se você estava acostumada a usar um creminho depois do banho ou antes de ir dormir (sempre lembro da Tamara nessas horas), bom para você. Deve ter uma invejável e macia pele de pêssego. Eu odeio me sentir oleosa, bezuntada. Jogue o creminho fora, aquele indicado pela amiga que faz milagres na celulite, e peça a ajuda de uma dermatologista. Invista em um para grávidas e pegue o hábito de passar na barriga e nos quadris. Os tecidos vão esticar e precisam estar hidratados. Neste momento o seio também está crescendo e coçando, mas evite passar no bico. Ele pode ficar macio demais e trincar depois.

- DESODORANTE
Não pode ter alumínio, parabeno e principalmente cheiro. Pois você vai enjoar muito. A minha solução foi passar bicarbonato de sódio. Eu saio do banho, molho um pouquinho os dedos e passo na axila. Você fica limpinha o dia todo.

- ESMALTE

Não sei porque não pode usar, mas não pode.

- PERFUME

Deve estar relacionado ao cheiro e seus enjôos.

- SHAMPOO

Ele não vai fazer o mesmo efeito de antes, verifique se também deve trocar.


Você deve estar pensando: Mas e aí Ellen, esta lista não acaba nunca?

Com certeza não acabou, e se você souber de mais algum item pra a gente se desembelezar juntas, por favor, me conte.


Sei que você já entendeu que seu corpo agora pertence ao bebê, que você vai engordar, sentir dores, e não custa abrir mão de mais algumas coisinhas (química, na verdade). Mas derepente também vai descobrir uma beleza que nem se lembrava que existia. Vai deixar sua pele tão reluzente e os olhos tão iluminados que nem vai sentir falta da make. Os cabelos vão crescer com mais rapidez, ficarão fortes e com brilho. Você será progesterona pura, estará tão feminina que vai exalar um cheiro natural irresistível. Você vai se autodescobrir todos os dias e perceber que a beleza vem de dentro. Literalmente.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sexta,13

A sexta-feira 13 foi realmente horripilante por aqui. Sempre tive tendências a ter infecção urinária. Na verdade, já me ocorreu umas 4 vezes durante a vida. Até quando eu estava em Brighton, já grávida e não sabia. Foi complicado lidar com a ardência forte. Meu irmão me ajudou a comprar o remédio na farmácia e depois de 1 semana de tratamento eu ainda não estava bem.

Só que nesta sexta a sensação foi diferente. Acho que quando você sabe que tem um cisquinho de gente pra proteger, qualquer sensação diferente pode deixar você completamente desesperada.

E foi assim, sem pensar, que ao levantar as “habituais” 6 vezes pra urinar durante a noite, eu senti uma imensa vontade de correr pro banheiro e não consegui fazer nada. Não saía uma gota.

Na hora pensei: você bebe pouca água, o seu bebê está desidratado. E qual a reação esperada? Beber água. Peguei uma garrafa de 2 litros e tomei, bem ali, no banheiro. E nada.

Tentei voltar a dormir, mas a barriga foi crescendo numa tal proporção (parecia que eu estava com 7 meses de gravidez) que eu não conseguia me deitar, esticar as pernas, nem ao menos sentar, tamanha a forte dor. Parecia que ia explodir. E ia mesmo.

Era 3h30 da manhã e fiquei de pé até 4h da tarde, indo de um lado pro outro, sem saber o que fazer. Estou morando numa serra, pra ir até a cidadezinha ao lado preciso pegar um ônibus que só passa de 3 em 3 horas e pra ir a cidade de Siena pegar outro ônibus que leva meia hora pra me deixar na estação de trem e lá outro ônibus até o hospital público. Eu poderia ter ido mais cedo, mas não conseguia subir o morro até o ponto, na verdade mal consegui ir até a vizinha me apresentar e perguntar se ela sabia de um médico por aqui mesmo ou onde eu poderia pegar um táxi. Bom, ela não sabia.

O nego já tinha feito de tudo. Me deu banho de assento com bicabornato de sódio e vinagre, comprou sabonete intimo, faxinou o banheiro, trocou meus lençóis, fez massagem e sucos...

Mas chega uma hora que você que precisa reagir. Minha bexiga estava tão cheia que começou a escorrer xixi pela minha perna, bastava eu levantar. Então coloquei um absorvente e fui ao pronto socorro. Chegando lá colheram meu sangue e me encaminharam ao ginecologista. Enquanto esperava o resultado, fui atendida pela enfermeira Roberta que tentou me acalmar. O médico fez ultrassom e não conseguia achar o bebê no meio de 2 litros de água. Ficou ainda mais preocupado quando viu que eu tinha 3 fibroses que também estavam empurrando meu filho.

Imediatamente colocou um catéter na minha uretra e tirou o liquido manualmente. Alivio imediato. Depois me passou um antibiótico (amoxilina) o único que pode ser usado pelas grávidas quando ocorre infecção urinária (dizem que é normal neste período, mas pelas pesquisas apenas 2% das gestantes são acometidas desta dor latente e angustiante).
Novo ultrassom e o doutor finalmente conseguiu ver o bebê que estava lindo, forte e saudável com 11 semanas e 1 dia. Mas ele pareceu preocupado ao falar sobre as fibroses. Disse que eu preciso de um acompanhamento forte no mínimo 1 vez por mês pra observar se estão crescendo (ele tem medo de se romper no vigésimo mês) e pediu pra eu ficar o máximo de repouso que eu conseguisse.

Foi um dia cheio e intenso. Mas ao chegar em casa às 9h30 da noite eu já me sentia bem. Precisava apenas tomar a amoxilina (2 vezes ao dia) a cada 12 horas.

Eu não ia escrever nada disso pra vocês. Queria contar como a gravidez pode ser um momento mágico e maravilhoso. Apenas o lado bom. Mas depois de hoje (4 dias depois) que aconteceu tudooooo de novo com a diferença que me recusei a beber água e, depois de 13 horas sentada na privada pedindo a Deus pra nos ajudar, 32 horas sem dormir, consegui esvaziar sozinha a minha bexiga e precisava alertar as gravidinhas a irem sempre ao banheiro (evitem os públicos), se hidratarem bem e frequentemente, não se automedicarem e a qualquer sinal de desespero tentar manter a mente calma e ir ao pronto socorro. Não vai ser nada e vai passar.



quinta-feira, 12 de maio de 2016

Italiana legítima

Eu jurava que quando conseguisse minha cidadania italiana vinha correndo contar pra vocês. 

Durante todo o processo que posso dizer que durou 8 anos (começando do dia que o Cadu, meu cunhas, com o sonho de morar em Londres conseguiu agendar uma data pra apresentarmos nossos documentos na Embaixada Italiana de Brasília - na época morávamos em Goiânia e o reconhecimento só pode ser feito na sua região) eu escrevia emails para um dia dizer a quem tivesse ânimo, energia e muita vontade de realizar este sonho - que é muito mais do que um direito - de ser reconhecido como parte da sua família.

Poderia listar em detalhes tudo que você precisa fazer. Como correr atrás da sua árvore genealógica e conseguir as certidões de nascimento, casamento e óbito desde o seu tataravô no hospital que ele nasceu, na igreja que ele casou, no cemitério onde foi enterrado, rever se cada letrinha dos documentos foram escritas corretamente, fazer uma prenota na embaixada que só abre vagas de datas às 19h de um dia específico por exatos 2 minutos e tentar por aproximadamente uns 7 meses pra conseguir se for muito persistente para ir até lá depois de mais 10 meses, ir no eresp legalizar seus documentos com um selo, levar para um tradutor juramentado passar pro italiano, e entrar numa fila (arquivar a documentação) por uns bons 12 anos até chegar a vez deles mandarem sua pasta para Itália, mas prefiro contar a minha experiência e você tirar suas próprias conclusões.

Foi em novembro, que exausta de não fazer nada e vendo que o acerto da minha demissão estava escorrendo pelo ralo a cada aluguel que eu pagava pra morar em São Paulo, resolvi ligar pra embaixada e perguntar quando eles poderiam me receber. Eu não estava disposta a fazer este agendamento de 17 meses só pra passar pela portaria, sendo que no site está claramente escrito que segunda e quarta são dias abertos para o público tirarem suas dúvidas. Mas como também não queria bater a cara na porta, liguei para a Caterina (senhora responsável pela cidadania diretamente no Brasil) e ela estava de ferias. Depois de 1 mês liguei novamente e ela tinha acabado de voltar. Então dia 18 de janeiro combinei com ela de me liberar por email (eu precisava de um papel pra poder entrar) para perguntar se o processo (meu e dos meus irmãos) já tinha ido pra Itália. Foi quando ela me contou que mudou a data do nosso arquivo e agora ele seria mandado pra Itália daqui 4 anos, se tudo corresse bem.

Aí, do nada, tive a ideia de perguntar: E SE EU TIRAR A CIDADANIA DIRETAMENTE NA ITALIA?

E ela respondeu: Aí só vai levar alguns dias...

Diante de pesquisas anteriores, relatos e grupos no face, fui vendo que estes dias são de 3 a 6 meses, mas quando ela me disse soou como uns quatro.

- Então eu vou. O que faço agora?
- Você tem que voltar pra sua casa e agendar uma data pra vir mostrar os documentos pro Roberto. Ele é o responsável pelo setor de legalização.
- Mas isto para ou atrapalha o processo dos meus irmãos? 
- Não, se você nos trouxer novos documentos com data atualizada de até 6 meses não preciso mexer nesta pasta e o processo continua correndo por aqui.
- E vai levar quantos dias pra eu fazer esta prenota e voltar aqui?
- Alguns meses.

Foi nessa hora que fiz cara de gatinho do Shrek.

- Mas eu já estou com todos documentos aqui. Será que não dava só pra ele ver se estão corretos?
- Como você é muito bonita, acho que ele vai querer te receber. (gente, não fiquem bravos com este elogio, foi o único momento descontraído de toda esta luta, então se ela me achou bonita mesmo ou estava com boa vontade não vem ao caso).

Roberto me recebeu na sua sala. Olhou todos os documentos e eram cópias não autenticadas (não valiam). Ele pediu pra eu voltar em 2 dias e conseguir apenas minhas certidões de nascimento e casamento atualizadas. Aconselhou que se eu fosse morar na cidade no meu avô o processo andaria bem mais rápido já que meu avô e meu pai estavam registrados lá.

Como a sorte estava do meu lado e, quem me conhece sabe que nada me estimula mais do que me achar sortuda, voltei pra Goiânia e fui ao cartório pegar minha certidão de casamento que ficou pronta em duas horas, liguei pra minha madrinha em Uberlândia e pedi a de nascimento, jurando que também ficaria pronta na mesma tarde. Mas eles pediram 5 dias pra entregar e mais 2 pra mandar por correio. Foi nesta hora que minha prima de Brasília, Juliana, me ligou. E contou uma coisa que eu nem imaginava. Assim que as certidões estivessem em minha mão eu precisaria contratar um despachante pra pegar o selo no Eresp (uns 3 dias) pra só depois levar pro tradutor juramentado (eles traduzem até a data do selo, por isso precisa seguir esta ordem) e todos os tradutores recomendados pela embaixada estavam de férias ou muito ocupados pra fazer tudo em 2 dias (pediram mais uma semana). Foi quando contei pra ela que tinha acabado de receber uma proposta de trabalho e estava no centro de Goiânia, num calor dos infernos, tendo que decidir se seguiria em frente com o plano e tentaria pedir mais uns dias pro Roberto (que já estava me fazendo o maior favor deste mundo e – detalhe – ele não falava uma palavra em português ou se voltaria pra São Paulo e continuaria com a mesma vida feliz de sempre.

Liguei pra Embaixada na manhã seguinte e expliquei pro Roberto (não sei como ele aceitou me atender) e ele disse que tudo bem adiar mais uns dias, mas ele estava saindo de ferias então eu só tinha uma semana.

Enquanto coloquei toda família pra correr, chorar e implorar nos cartórios, mandei tudo por sedex 10 pra Ju e ela foi pessoalmente levar os documentos pra Eresp (em meia hora) e pra um amigo traduzir (em 2 dias). Fui pra São Paulo enquanto isso fazer um freela. Por que afinal já tinha gasto 1500 reais só que com esta brincadeira. E na sexta cheguei de avião direto na embaixada pra pegar a legalização do Roberto que nada mais é do que 4 carimbos me autorizando pegar a cidadania direto na Itália.

Ele disse: - Pode comprar as passagens. Está tudo certo.

Mas antes quis procurar por minha família na Itália que eu ainda não conhecia e pouco tinham ouvido falar de mim. Quando meu pai esteve aqui com meu avô, ele tinha minha idade (34 anos), por isso recomendou que eu entrasse em contato com um primo dele o Vincenzo.

Fui atrás do contato dele com a tia Maria Celano, que mora no Rio de Janeiro, foi quando ela me disse que eu deveria falar era com o Giuseppe. Pois o Pino, como costumam chamá-lo, trabalha na Comune exatamente reconhecendo cidadanias há uns 30 anos.

Tá vendo a sorte aí de novo? Não poderia deixar passar.

Adicionei ele no facebook pois ficaria mais fácil nos comunicarmos através no Google Translate (só não sabia que esta ferramenta de tradução me pregaria altas peças). Sem querer abusar perguntei se ele poderia me ajudar e aproveitar pra perguntar sobre meus irmãos. Ele disse que um de cada vez. Bom, tive que respeitar. Ele não poderia fazer nada contra a lei. Nem eu queria. Mas achou que estaria ajudando me cadastrando na questura de Potenza como sua hóspede e assim que o vigile passasse me liberando pra viajar e decidir onde eu queria morar. Parecia uma excelente ideia. Mas já vou antecipando pra vocês: se já forem loucos o suficiente pra vir a Itália sem saber italiano e sem contratar uma assessoria (eu só soube de tantas informações porque minha prima pagou 450 euros – uns 2300 reais pela dela), pelo menos garanta que você tenha uma casa alugada no seu nome enquanto espera pelo processo. Porque daqui você não vai conseguir alugar nada. E sem comprovar residência você não é ninguém além de um sem teto.

Aí meu primo querido pediu pra avaliar os meus documentos (scaneei e mandei por email) e quando viu que eu só tinha os meus, não adiantou eu explicar que meu pai já tinha a cidadania. Ele não estava registrado lá no seu computador e era isso que contava. O Roberto já tinha viajado, sem previsão de volta, eu não tinha o contato direto dele, já tinha comprado a passagem pro dia 1 de março e estava frita. Tinha menos de 1 mês para começar tudooooo de novo. Agora com as certidões de nascimento e casamento do meu pai e a tal carta de não renúncia (NR) que não imaginava que só seria mandada quando eu já estivesse morando na Itália.

Tudo de novo. Tia Mara, Tio Naninho, Tio Claúdio, Vô Max, Tia Cibele, Juliana, Piero, Mamãe. Que angústia. Todo mundo ligando atrás de informações e dando um jeito desta viagem concretizar.

Pintei o apartamento. Encaixotei a mudança. Doei móveis, roupas. E quando já não sabia mais se estava precisando era de desapego ou descarrego, despedi de toda família e fui bater na porta da Embaixada (sem prenota, no dia que não é aberto ao público, e torcendo que o Roberto tivesse voltado dia 29 de fevereiro, mesmo sendo o último dia do mês, só porque dava numa segunda-feira e porque eu queria. Hahaha. Claro que não.

Passei pela portaria. Ufa. Poucos conseguem. E lá dentro disse que queria falar com o chefe geral máster mega plus de todos. Ele me recebeu, mostrei a passagem e ele disse: Vou falar com ele pessoalmente. Volte amanhã às 10h30 que vou tentar fazer que ele te atenda.

Voltei pra Goiânia. Peguei as malas. Peguei um ônibus e no dia 1 estava lá. O Roberto se comoveu pois tive que esperar 1 mês por ele e legalizou os documentos do meu pai. Só sei que dei um abraço tão forte nele que até então foi um dos momentos mais vitoriosos da minha vida.

Eu não conhecia a Itália. Não conhecia minha família. Não conhecia a minha força.

Chegamos em Roma. Joguei moeda na Fontana de Trevi. Seguimos pra Nápoles. Conheci minha prima Chiara, 24 anos, que fala inglês e fez às vezes da minha assessoria (seria impossível sem ela). Me levou pra Castelluccio Inferiore e ficou com a gente durante toda semana na casa dos pais dela que nos acolheram como filhos. Me emocionei ao conhecer a nonna Maria (irmã do meu vô Giovanni e igualzinha a ele). Manjiamos muita comida boa. Conheci as outras tias. Fui muito abraçada. Fizemos um filho. E quando o vigile passou (o meu passou em meia hora, pode levar até 60 dias de acordo com a lei) eu fui convidada a só voltar depois que a Alessandra Petroni (da embaixada de Brasília) mandasse a carta de não renúncia. O que ela fez o Giuseppe acreditar que seria em 15 dias, mas como ela tem até 90 dias pra mandar, levou 70). Isso porque ele ligava toda semana cobrando...

Nesses 2 meses de sem teto morei 1 mês com meu irmão e foi maravilhoso dividir o sofá cama com seu PUG Heinsenberg. Juro, Brighton é lindo e ele e o Charlie foram demais ao nos receber. 1 semana ficamos na casa da Sophia em Berlim. Ela também foi muito gentil, mas como estava trabalhando não conseguimos conhecer muito a cidade e também não ajudou por eu estar chorando desesperadamente todos os dias. E por fim, pedi pra minha anjinha da guarda, Ju, nos receber na casa dela em Serre di Rapolano, onde estamos há 3 semanas e se Deus quiser até 30 de maio pararemos de abusar da sua ótima boa vontade.

Mas por que você não alugou um apartamento? Deve estar se perguntando.

Porque ninguém aluga apartamento para você se:

a)     não for cidadão italiano
b)     não tiver 2 contratos de trabalho
c)     não tiver comprovação de renda ou 1 casa de garantia na Europa
d)     não pagar 12 meses adiantados

Entendeu? Fora que vim com uma expectativa de morar numa casa por 600 euros quando a realidade em Londres, Berlin, Amsterdam, Milão não sai por menos de 1000 euros. Fora o consumo de água, luz e aquecedor que dá mais uns 200 e a alimentação que não é tão barata assim (20 euros por dia pro casal que cozinha em casa). Não dá pra sair, visitar museu, achar que é turista. O euro abaixou mas continua 4,40 reais com taxas e IOF.

Então quando o meu primo disse: pode vir pra Castelluccio pegar sua identidade, nem sei o que senti. Fazia 8 anos, 2 meses e 10 dias da maior agonia da minha vida. Eu estava com um peso de 300 kilos nas costas. Eu já tinha rezado terço, pagado promessa, e eu sou espírita. Porém algo me dizia que ainda não tinha acabado.

Desta vez não tinha Chiara assessorando, os pais dela iam viajar então ficamos no único hotel da cidade, não tinha trem, ônibus, avião que chegasse lá a tempo do Giuseppe sair de ferias, então alugamos um carro e partimos pra 7 horas de viagem.

A terça, 10 de maio de 2016, ainda foi com emoção. Depois de pagar 10 pela identidade, 116 pelo passaporte, 100 pelo carro, 90 pelo combustível, 80 pelo pedágio, entendi que era pra ir a comune assinar os últimos papéis às 3h quando na verdade ele tinha marcado comigo pra 1h (e eu não tinha entendido por causa do meu excelente italiano). Eu estava lá só por causa disso e quando cheguei às 2h30 vi que a comune já estava fechada. Que desespero!!!!!!! Liguei pro Giuseppe pedi mil perdões e ele falou que reabriria às 6h da tarde pra mim. Foi exatamente nesta hora que fui reconhecida, batizada, abençoada como cidadã italiana.

Aí o próximo passo foi chorar por meia hora, entre soluços. E mensagens no whats up de felicitações.

No outro dia era só acordar às 5h da manhã e viajar por 2 horas até a Questura de Potenza pra pedir a permissão pro Alexandre trabalhar na Itália e morar comigo na Europa por 5 anos. Pra mim, é o documento mais importante, muito mais do que meu pedaço de papel. Estamos aqui pra isso. Pra ele trabalhar, se realizar profissionalmente e cuidar da nossa Júlia.

O Ufficio di Imigrazzione abre das 9h30 às 12h30. É sempre desorganizado e você tem que lutar por seu lugar na fila imaginária. Então quando consegui pedir a PERMESSO DI SOGGIORNO per motivi di famiglia pro meu marido, o oficial de polícia perguntou se eu tinha agendado pela internet. E é lógico que eu não tinha, pois não sabia que precisava mesmo tendo decorado o site deles de tanto pesquisar. Aí ele falou pra nós voltarmos dia 26 de maio (daqui 15 dias) com previsão de retornar mais uma vez dia 26 de junho (45 dias) para aí sim não ficar ilegal no país e poder procurar emprego.

Tentamos fazer por Siena (que é bem mais pertinho) mas só fazem na região que você possa comprovar residência. Então a grávida aqui que se vire com mais 4 viagens.

O passaporte foi só ir na portinha ao lado, colocar minhas digitais e esperar de 15 a 20 dias pra ser mandado por correio para Castelluccio.
Parece que foi tudo lindo, né? Mas olha o caso da minha prima e anjo da guarda. Ela fez tudo direitinho. Pesquisou por uns 2 anos. Planejou cada passo. Organizou a papelada com 6 meses de antecedência. Contratou um assessor caríssimo. Alugou sua casa pra ter uma renda e não ficar desamparada. Veio com o marido e 3 filhos. Olhou escola pros meninos. Alugou uma casa numa cidade vizinha. E o vigile dela levou 45 dias pra passar. Ela está aqui há 2 meses e só semana que vem sua assessoria pedirá a carta de não renúncia pra embaixada de Brasília. A Alessandra vai levar mais 90 dias pra mandar. Daí ela pedirá o passaporte dela e das crianças (inclusive o Pedrinho, um bebê de 1 ano que está fazendo greve de fome), que vai levar mais 1 mês pra chegar. E mais 45 a 60 dias pra chegar a permissão pro marido dela começar a procurar emprego. Você acha mesmo que é fácil???? Porque com o fulano de tal foi mais rápido, mais barato, mais simples.

Tudo bem. Não quero tirar sua esperança. Afinal, como eu escrevi no começo. Minha vontade era fazer de tudo pra você encarar esta aventura como um final de semana prolongado. Mas a verdade é que esta paisagem linda e verdinha de Toscana é relaxante nos primeiros dias, mas entediante quando você está literalmente preso a burocracia por mais de 6 meses.

Apenas pense bem.
Sei que meu avô está super orgulhoso de mim e é isto que me conforta. Mas não desejo isto pra ninguém, muito menos pros meus irmãos.












Alimentação no primeiro trimestre

Hoje completo 11 semanas de gravidez. Aeeeeee. Na verdade não sei ao certo. Mas em quem você acreditaria: no seu tio, um renomado ginecologista, ou nas suas contas em relação a última menstruação que você não tem ideia se teve um fluxo ¨normal¨ de sangue? (se eu tiver com 11 semanas eu menstruei 2 vezes durante a gravidez mas foram só sujeirinhas como uma borra de café - e isto é mais normal do que você pensa por causa da implantação do óvulo).

Como prefiro acreditar que falta apenas 1 semana para terminar o primeiro trimestre (período de maior risco para um aborto espontâneo e que algumas grávidas costumam nem contar para a família tamanha a ansiedade, enjôos, mal humor e excesso de sono), tenho muito o que comemorar. Não senti nadaaaaaa disso, apenas hoje quando meu marido cortou o alho o cheiro pareceu um pouco mais forte do que o comum, mas não atrapalhou meu apetite. Isso nunca.

E hoje vim contar pra vocês como tem sido minha adaptação a nova alimentação.

SIM, estou sentindo muita falta de coca-cola e bombom sonho de valsa. Mas como já sabia que teria que parar por pelo menos 1 ano (durante a gravidez e uns meses da amamentação) estou convencida de que estou fazendo o melhor pra nós dois.

As bolachas recheadas foram substituídas por frutas. Mais de 3 por dia. Laranja, banana, maçã, kiwi. Infelizmente aqui não tem mamão, goiaba, manga :(

Os pães e macarrões (que eu já comia apenas em ocasiões especiais - mas com uma frequência até grandinha) viraram queijos dos mais variados tipos: emental, brie, parmegiano reggiano, burratina.

Eu amo quando tem omelete ou ovo mexido, sempre com queijo (mas esta semana estou tentando diminuir um pouco meu lado ratinha pois a prisão de ventre começou e como é um problema desde quando nasci, não quero que se agrave).

Verduras verde escuras como rúcula, couve e brócolis foram adicionadas ao cardápio. A metade de um tomate com um pouquinho de sal é sempre deliciosa.

E como aqui na Europa leva batata em tudo. Depois de alguns purês deixamos a batata de lado e começamos a comer arroz integral com carne picada e vegetais como cenoura e abobrinha, ou uma sopinha bem nutritiva para pegar mais leve.

O almoço de hoje foi peixe com camarões e legumes.



E as frutas do lanche








terça-feira, 3 de maio de 2016

Amendoin

Para que fazer 2 testes de farmácia se posso viajar até Siena e passar 5 horas no hospital esperando pelo exame de sangue? É muitoooo mais divertido.

Com tantos médicos na família e o Padrinho Matheus se recusando a acreditar sem um exame no papel que comprovasse que estava tudo bem com a mamãe e o bebê, a Juliana, minha anjinha da guarda sempre presente e carinhosa, solicitou que o marido me levasse até um hospital e só voltasse quando pudéssemos ficar realmente tranquilos.

A primeira busca foi através da internet. O Piero encontrou um site para imigrantes. Fomos até lá e descobrimos que se tratava de uma escola de música, teatro, fotografia e linguas completamente gratuita. Eles me indicaram 2 caminhos: ir no pronto socorro (que fica ao lado da estação) ou ir até o portal de Asla, pegar uma senha, que me direcionaria a um médico de família para cuidar de todo pré-natal (mais indicado para quem já é cidadão italiano, para poder desfrutar deste serviço de forma gratuita). Disse a ele que eu iria então ao pronto socorro. E ele sugeriu: - é bom que você dizer que está sentindo uma dorzinha para justificar sem atendida como emergência.

Assim fomos. Foi super fácil chegar no OSPETARE apenas seguindo as placas de trânsito. Estacionamos. 50 centavos por hora. E andamos pelos vários prédios do hospital até chegar no nosso.

Já na recepção fizeram uma triagem perguntando o que eu estava sentindo. Eu disse dores nas costas e mostrei o teste de farmácia. Pediram meu passaporte e perguntaram onde estava hospedada. Só pra efeito de registro. Me deram uma pulseirinha e o médico me chamou em 5 minutos. Chegando na sala tinha 6 doutores: 1 senhor, 2 mais experientes, 3 residentes. Falei para o Senhor: - Io non parlo italiano. E ela respondeu: - Eu menos ainda. Perguntei se poderia falar em inglês e ele pediu pro outro médico traduzir. Aí perguntou o que eu estava sentindo e eu disse: estou grávida. Derepente todos se levantaram e vieram me abraçar: Auguri, Congratulations, você está feliz? Coisa boa. Então não está doente, pode ir embora. Aí eu pedi um exame de sangue só pra saber se estava tudo bem. Eles tiraram uma amostra e pediram para eu ir ao ginecologista em outro prédio.

Foi lá que sentei e esperei por horas. Vi que muitas mulheres que chegavam depois de mim entravam na consulta na minha frente. Comecei a sentir fome e as dores nas costas se materializaram. Estava super incomodo. Então perguntei pra a última paciente: Você também vai entrar na minha frente? Ela sorriu e começamos a conversar. Colocou a mão na minha barriga e disse que meu bebê se chamaria Lorenzo. Foi atendida e quando saiu me deu um longo abraço de felicitações. Era tudo que eu estava precisando. Quando deu 9h30 da noite pedi pro nego me comprar uma bolacha de sal (a única coisa que tinha na vending machine) e quando estava abrindo o pacotinho a médica me chamou já perguntando: - Você não comeu nada, né? Porque só posso fazer este exame com o estômago vazio. Que sorte. Pois estava quase chorando de fome.

Entrei no consultório e ela me disse: o Beta HCG está ótimo, e aí tentou falar um inglês inexistente enquanto me examinava: You are Unpregnancy. Estranhei. Primeiro porque esta palavra não existe, e se existisse ela estava me dizendo que tinha sido alarme falso. Então eu falei: YES or NO? E ela pediu desculpas e disse YES YES YES.

Pelas suas contas eu estou com 5 semanas e 3 dias de um amendoinzinho de 54 milimetros. Dá pra imaginar? Metade de um centímetro? Disse também que ia nascer na virada do ano. 31 de dezembro. Bem típico de ser meu filho. Assim o mundo inteiro sempre comemoraria seu aniversário com fogos de artifício.

Voltei pra casa realizada. E ao contar pra família, meu tio Guto disse que estas contas estavam erradas. Pois o tamanho do meu bebê é de 8 semanas e meia. Tentei convencê-lo de que deve ser porque sou grandona, ele é só um bebezão. Mas ele insistiu que devo ter errado a data. Que meu filho deve ter sido feito dia 5 de março. 3 dias depois que chegamos na Itália. Agora o jeito vai ser esperar daqui 1 mês pelo próximo exame, que ainda não vai indicar o sexo, mas uma coisa que estou bem mais ansiosa pra saber: vai ser sagitariano ou capricorniano?