domingo, 18 de setembro de 2016

Eu escolho ficar

Vivemos diariamente a consequência das nossas escolhas. E isto é incrível quando você tem a maturidade suficiente pra entender que não existem escolhas certas ou erradas.

Passei 35 anos acreditando que não tive escolha, fui escolhida.
Lembro quando me apaixonei a primeira vez. Eu deveria ter uns 8, 9 anos. Ele era o menino mais levado da turma, faltava aulas, não fazia as tarefas (na verdade, eu fazia pra ele), lembro de uma vez ele pular o muro pra fumar e eu ficar do outro lado vigiando se nenhum professor aparecia. Um dia, quando tínhamos 12 anos fiquei sabendo que ele tinha sido preso. Bom, digamos que percebi que eu não iria casar com este cara. Eu era nerd, sem graça, gordinha, ele nem sabia meu nome e eu dançava quadrilha todos os anos com um garoto um pouco menor que eu. Não tinha escolha. Eu era uma cabeça maior que meus colegas. Era como ser o último na divisão do futebol. Sobrou você. Fazer o que? Vem pro meu time. Mais tarde também fiquei sabendo que este menino ficou 6 anos pedindo pro papai noel pra crescer e ficar à minha altura.

Levei uns anos para me apaixonar novamente. Eu tinha 14, tranças no cabelo, macacão jeans. Era a única que não usava maquiagem. Ele tinha 16. Era da minha sala porque supostamente repetiu 2 vezes o primeiro ano. Não ligava dele ser mais velho, o que importava é que era lindo e não dava bola pra ninguém. Mais uma vez meu radar ligado no impossível, imprevisível. Como juntar uma menina, que sempre foi segundo lugar da sala, absolutamente tímida com o carinha que sentava no fundão? Então um dia, precisamente, 20 anos atrás, foi aniversário de 15 anos da nossa amiga e eu tinha acabado de voltar da Disney, o qual foi uma experiência péssima, pois eu não tinha idade pra viajar sozinha, não porque não era responsável, mas porque era tão tão responsável que nenhuma menina da minha idade queria dividir o quarto com a nerd, sem graça, gordinha que não sabia nem qual era sua cor preferida. Bom, mas o importante é que comprei um DVD pra um amigo do meu pai e ele me deu de presente 100 reais por ter trazido a encomenda, o que me fez comprar meu primeiro vestidinho preto, da Ellus, e eu estava linda, dançante, finalmente com os cabelos soltos e ele me chamou pra conversar. Foi assim que dei meu primeiro beijo e a Amanda me ligou no outro dia dizendo: - Sonhei que você deu seu primeiro beijo. Aí na segunda, de volta a aula, vi uma foto dele de quando tinha uns 12 anos de idade. Ele não estava tão bonito assim e eu pensei que nossos filhos também não seriam bonitos e resolvi parar de sofrer depois de uma semana alugando o ouvido do meu melhor amigo e fazendo poemas pro menino mais disputado da sala.

Depois de uns 4 meses, numa tarde de estudo como todas as outras, só que na minha casa, um amigo, o primeiro lugar da sala, nerd, sem graça, magrelo, me deu um selinho durante uma brincadeira de verdade e consequência em que preferi a consequência já que nunca gostei muito da verdade. E ele me disse que sabia que eu não gostava dele, que teria vergonha de contar pra turma, então a gente poderia namorar em segredo até que eu começasse a chorar por ele e fazer poemas. Mais uma vez eu fui escolhida. Então chegou a hora do vestibular. Nos mudamos de cidade. A gente mudou muito. Ele se tornou uma pessoa absurdamente interessante. Eu perdi uns quilos e ganhei umas espinhas.

E em Ribeirão meu radar atacou novamente. Me apaixonei logo no primeiro dia pelo veterano que deu meu trote e ficou com todo dinheiro que arrecadei no semáforo para fazer um churrasco. Eu era nerd, sem graça, caipira. Ele era o menino de sobretudo preto e coturno rock and roll que ficou com a minha melhor amiga porque não queria nada sério com ninguém. Depois de uns 3 meses, tive sorte do bad boy entender que o lado negro da força não combinava muito bem com o que tinha por trás daquele óculos escuro redondo e ele se tornou o cara mais bonzinho do mundo. Tão bonzinho que depois de 5 anos o relacionamento acabou. Por telefone, Sem dor, Como tinha de ser.

Aí voltei pra Goiânia. Arranjei meu primeiro emprego. Emagreci 20 quilos, E derepente, depois de 1 ano sem beijar ninguém, apareceu um menino no serviço. Este era o pior dos piores. Meu radar quase teve um colapso. Tinha uma noiva, usava drogas, amigos barra pesada e se interessou pela menina nerd, sem graça, careta, eu. Foi quando dei graças por nunca ter podido escolher e mais uma vez fui escolhida.

Um dia depois do meu aniversário, feliz por ter feito a festa infantil dos meus sonhos e ter convidado todo mundo que um dia já tinha conhecido, meu nego começou a trabalhar no meu serviço. Sentou na minha frente. Eu definitivamente não vi nada nele. Mas ele começou a fazer poemas, postar no fotolog que criou pra mim, me convidou para ir num festival de música sertaneja que certamente não era o seu gosto musical, me levou pro pit dog e disse: A gente tem que gostar de quem gosta da gente. Agora eu vejo que já sabia disso, a vida estava me ensinando desde que eu tinha 8, 9 anos, mas poucas pessoas dão realmente oportunidade pra isto acontecer. Elas já vem carregadas de senãos, de manias, de predileções, ou é como eu sempre sonhei, sem defeitos, sem brigas, sem abrir mão, ou nada feito. Ou ele chega perfeito, com as palavras certas, o olhar devastador, o jeito de pegador ou melhor ficar sozinha. Bom, sou a prova viva que precisamos dar uma chance. Não só para os relacionamentos, mas pra nós mesmos. Eu sempre fui escolhida. E ficava completamente sem entender o que uma pessoa tão boa via numa nerd, sem graça e gordinha. Acho que por isso tinha tendência a me interessar pelos caras maus. Inevitavelmente sabia que um dia terminariam comigo e eu já estaria esperando por isso.

Eu levei uns 8 meses para me apaixonar pelo meu marido. Primeiro tive que conhecê-lo, me conhecer, ajustar muitos pontos, descobrir cada um dos seus lados e perceber que eu amo até do avesso. Depois passei por uma fase de: como ninguém vê o quanto ele é a pessoa mais especial deste mundo? O que posso fazer pra mostrar como ele é um homem bom? Por fim eu percebi que não precisava provar nada pra ninguém. Infeliz daquele que não tem a oportunidade de conviver com ele diariamente, que não consegue enxergá-lo com os olhos do coração. Foi aí que eu vi que eu não fui escolhida.

Nós escolhemos dia a dia respeitar nossas vontades e estimular os sonhos.
Nós escolhemos admirar cada uma das milhares de qualidades.
Nós escolhemos nos surpreender com as novidades que nunca param de surgir,
Nós escolhemos conversar, conversar, conversar e só parar na hora de dormir pra também poder contemplar o silêncio que habita ali dentro.
Nós escolhemos que nossa casa é o melhor lugar pra se estar porque quando abrimos aquela porta temos certeza que encontraremos o sorriso mais sincero e alegre.

E todos os dias eu escolho ele, pois o seu coração é o meu lugar.


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